Paixão por Cristo

O que a palavra “paixão” significa para você como cristão? Entendo que paixão no significado mais verdadeiro e profundo não pode ser definida por nenhum dicionário. Quero mostrar pelas escrituras o que creio significa ter paixão por Cristo.

Lendo a Bíblia, vejo a paixão por Jesus como uma obediência crescente à Sua palavra. A maioria de nós vê a obediência como uma observância pessoal, individual, dos mandamentos de Deus. Porém obediência à Sua palavra tem implicações muito além disso. Não é apenas uma busca pessoal, mas um desejo fervoroso em favor do corpo do Senhor.

Sob a Velha Aliança, a paixão por Deus era na maioria uma busca pessoal. Em todos os períodos de trevas e iniquidade uma pessoa se levantaria com desejo fervoroso de obedecer à palavra do Senhor, e cumprir a Sua obra. Deus levantou Abraão numa destas épocas. Abraão seguiu o Senhor diante de nações hostis, e sua fé fervorosa o tornou pai de nações.

Penso também em Noé. Quando o Senhor não pôde mais tolerar a iniquidade e a violência do homem, Noé obedeceu a palavra de Deus com fervor inquebrantável. Ele se manteve nas coisas de Deus em um tempo de devassidão, pregando a justiça corajosamente. O mesmo com Enoque, que andava com o Senhor em seus dias. Em outras épocas negras houve um Isaque ou um Jacó.

Mais tarde, quando a verdade deixara Israel, Samuel buscou o Senhor fervorosamente. Houve também Davi, cuja paixão mostrou-se em sua reverência aos mandamentos. Em toda geração apóstata houve profetas piedosos que buscaram Deus com fervor, e declararam a Sua palavra. Falo de Isaías, Jeremias, Ezequiel e todos os profetas menores.

Contudo, ao longo dos tempos a paixão por Deus se manteve mais como uma busca individual. Por que? Porque não havia ainda um corpo de crentes com um Cabeça dirigindo em glória. Cristo não havia vindo. Ele ainda não havia colocado “os membros no corpo, cada um deles como quis” (I Coríntios 12:18). Isso aconteceu só após a morte e a ressurreição de Jesus. Paulo afirma: “Vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular” (12:27).

Sob a Nova Aliança, Deus procura mais do que uma busca individual de Cristo. Não é suficiente nos removermos de um sistema religioso apóstata declarando, “Vou me apaixonar por Ele como ninguém jamais o fez”. Conheço muitos cristãos e ministros que compartilham tal ambição piedosa. Todos que verdadeiramente amam Jesus querem manter um amor fervoroso por Ele.

Porém, a nossa busca por Cristo não pode ser para nossa edificação apenas; Deus não está interessado em ter apenas um homem cheio de Cristo, ou uma só mulher governada pelo Espírito, ou um pastor inteiramente entregue a Ele em uma igreja que faz concessões. Isso não está de acordo com a Sua palavra.

Paulo nos proíbe até insinuar “não sou do corpo” (I Coríntios 12:15). Ele declara, “O olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós” (12:21). Paulo está basicamente dizendo, “Tudo que você faz – de bom ou de mal, na bênção ou no sofrimento – afeta o corpo todo. O teu pecado deixa de ser apenas algo pessoal. Como você vive e o que você busca importa agora para todos os membros”.

Não podemos separar nossa paixão individual por Cristo da preocupação e da paixão genuínas pela totalidade do corpo

A gente pode orar e entrar em agonia devido aos nossos pecados e fracassos, clamando “Senhor, remova minhas fraquezas. Me livre destes costumes”. Mas você também ora e entra em agonia pelo pecado e pelas concessões da igreja de Deus?

As nossas vidas são abençoadas como resultado de nossa paixão individual; com esse zelo vem a paz, o descanso e o favor de Deus. Mas você se satisfaz em ser uma ilha de regozijo? Você fica feliz só por seguir Jesus, enquanto ao seu redor o corpo de Cristo está sofrendo?

O grito profundo da sua alma por um caminhar mais santificado não proveio de nenhuma coisa santa em você. O Senhor lhe colocou tal fome. O Espírito lhe despertou e mexeu em seu coração. E o fez com esse propósito: “Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:12). O Espírito de Deus nos põe em chamas para despertar os outros! A nossa paixão tem o objetivo de inflamar as pessoas ao nosso redor.

Paixão genuína pelo Senhor começa com uma coisa: obediência. João resume o assunto com muita simplicidade: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos” (I João 5:3). É impossível ter paixão por Jesus sem uma correspondente obediência aos mandamentos. Podem-se gerar todos os tipos de emoções tentando se viver um amor ardente por Cristo. Mas não podemos verdadeiramente ter paixão por Ele se não obedecemos a Sua palavra revelada.

Ao buscar o Senhor a respeito desta questão de aumentar nossa paixão por Cristo, o Espírito me direcionou a duas áreas.

1. Precisamos olhar para o ensino de Cristo sobre a humildade

“Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23:12). Jesus dirigiu esta declaração às multidões, particularmente aos próprios discípulos. A mensagem é clara: quem se auto exalta é incapaz de ter paixão real por Ele.

Jesus primeiro explica o crente que se auto exalta, e então o repreende: “Escribas e fariseus... fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens... amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens – Rabi, Rabi... Porém o maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23:1-2, 5-7, 11-12).

Jesus diz que quem se exalta é desonesto, e diz assentar-se “na cadeira de Moisés” – com isso querendo dizer que tem autoridade na palavra de Deus. Tal pessoa conhece o que as escrituras afirmam a respeito de um caminhar puro e santo, e é precisa ao interpretar tal palavra às multidões. Mas sua própria vida não está à altura do que ensina. Jesus fala o seguinte sobre estas pessoas, “Não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam” (23:3). Em outras palavras: “Não siga o exemplo deles. Eles vivem uma mentira”.

Tais pessoas praticam o pior tipo de exaltação própria ao se colocar acima da lei. Não hesitam em lançar pesados fardos de sacrifício sobre o povo de Deus. Mas pessoalmente não levantarão um dedo para obedecer estas mesmas leis.

Se formos todos nós honestos diante de Deus, teremos de admitir pecados similares. Às vezes até o mais diligente dentre nós não pratica o que prega. Como Jesus mostra, “Você prega, mas não pratica”.

Paulo inquire: “Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?” (Romanos 2:21). Ele está dizendo em resumo “Você faz bem em pregar contra estes pecados. Mas você não está lidando com eles em teu próprio coração”.

O Espírito Santo não vai permitir que eu passe por cima destas palavras de Cristo. Ele está me dizendo, “David, você realmente deseja paixão por Jesus? Então deixe que Eu penetre fundo em seu coração. Preciso mostrar a sua desonestidade em todas as áreas nas quais você tem de trabalhar. Quero que você meça a sua vida e o seu ministério pela palavra de Deus”.

Esta é a chave para todos nós: você está disposto a abrir seu coração para a palavra de Deus? Você quer se arrepender e sair de toda desonestidade e hipocrisia? Você vai pedir ao Espírito para lhe convencer de qualquer exaltação própria?

Jesus diz que quem se exalta ama reconhecimento e honra

“Fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens... amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens – Rabi, Rabi” (Mateus 23:5-7). Jesus aqui está falando de líderes religiosos. Está dizendo, “Estes homens amam os holofotes. Querem lugares de destaque nas reuniões públicas. E amam serem reconhecidos nas ruas”.

Não posso condenar nenhum pastor ou evangelista de exaltação própria porque posso ser igualmente culpado logo a seguir. Quando alguém perguntou à minha mulher quantos livros eu havia escrito, ela respondeu, “Acho que uma dúzia”. Eu rapidamente entrei na conversa dizendo, “Não. Na verdade foram trinta”. Quando outra pessoa perguntou quantas pessoas frequentavam a nossa Igreja de Times Square, Gwen respondeu, “Não tenho certeza, mas centenas de pessoas vão aos cultos”. Eu salientei: “Não, querida. São milhares”.

Jesus adverte, “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi [importante], porque um só é o vosso Mestre a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos” (Mateus 23:8). Cristo está nos mostrando outra vez, que exaltação própria não se trata apenas de um pecado pessoal, individual. Ele está mostrando, “Vocês são todos irmãos e irmãs. E você é apenas um de muitos, então você não tem de ser importante. Vocês são todos membros do Meu corpo e sou o seu Cabeça”.

Jesus prossegue dizendo, “O que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23:12). É importante não confundir o sentido de Jesus aqui. Humildade não é apenas o oposto de auto exaltação. É mais do que praticar o que pregamos, ou tomarmos o menor assento da casa ou praticarmos boas obras em segredo. Claro, todas estas são coisas boas e aceitáveis aos olhos de Deus, mas nenhuma delas nos torna humildes.

Primeiro, a prova mais segura de que alguém não é humilde é ele achar que é. Então, não ache que você está sendo humilde por meio da sua mansidão, quietude, de seu autorrebaixamento ou autonegação. Você não vai vestir humildade ignorando elogios ou se rebaixando. A verdadeira humildade tem a ver com uma única coisa: dependência total do Senhor.

2. O ensino de Cristo sobre confiança resume a questão de se apaixonar por Ele

Eis a perspectiva de Deus sobre como crescer na paixão por Cristo: enxergando a necessidade de humildade. E humildade é, na essência, total dependência do Senhor. A palavra “dependência” significa “confiança para todas as coisas, em todas as coisas”.

Somente confiança total e completa torna uma pessoa humilde. Isso quer dizer não ter programação, um querer próprio; significa ter os direitos como perda. Também significa conhecer quem tem poder para todas as coisas, e buscá-lo em fé para ser suprido. A confiança genuína não para ao dizer “Sou fraco”. Também declara, “Ele é forte”. Tal confiança dependente requer humildade.

Pedro diz: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (I Pedro 5:6). Como nos humilhamos diante da poderosa mão de Deus? Pedro nos conta no verso seguinte: “lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (5:7). O apóstolo simplifica: “Humilhe-se lançando seus cuidados sobre o Senhor. Humildade exige confiança. Para ser humilde você precisa confiar na bondade de Deus para contigo”.

O próprio Jesus deu o exemplo. “(Cristo Jesus) a si mesmo se esvaziou, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo” (Filipenses 2:7-8). Como Jesus se humilhou? “Sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (2:8).

Jesus é o nosso exemplo do homem humilde. O Senhor que criou todas as coisas e por quem todas as coisas foram feitas era totalmente dependente do Pai. Vemos a paixão de Cristo pelo Pai não apenas em Suas longas noites de oração ou nos milagres que operou, mas em Sua total dependência. Jesus reafirma vez após vez:

“Eu não posso fazer nada de mim mesmo; como ouço, assim julgo, e o meu juízo é justo, pois não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou” (João 5:30). “Nada faço de mim mesmo, mas falo como o Pai me ensinou. Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou só, pois sempre faço o que lhe agrada” (8:28-29).

Eis o ponto de toda esta mensagem: sim, Jesus tinha um amor apaixonado pelo Pai. E provou Sua paixão por meio da dependência obediente ao Pai. Tudo que Jesus fez e sacrificou não foi para Si de modo algum. A morte e a ressurreição de Jesus tiveram tudo a ver com a formação do Seu corpo de crentes. A vitória dEle foi totalmente para nós: para você, para mim, para todos ao longo dos séculos que viriam a crer.

Mesmo um muçulmano poderia dizer, “Jesus guardou a lei de Deus. Ele foi ao deserto e venceu a tentação; Ele teve uma grande vitória pessoal contra Satanás. E praticou boas obras; amava as crianças e ajudava as viúvas e os pobres. Ele também curava os enfermos e ressuscitava os mortos. E Ele mesmo se levantou dos mortos e foi para o céu. Sim, Jesus nos deixou um bom exemplo para seguirmos. Ele alcançou grande vitória, digna do paraíso”.

Mas a significância da vitória de Jesus não para aqui. A vitória de nosso Senhor sobre Satanás oferece a nossa vitória sobre o pecado. A penalidade que Ele pagou foi para o nosso débito, não o dEle. A Sua morte foi a nossa morte, e a Sua ressurreição foi nossa também. Ele realizou todas estas coisas para nos restaurar ao Pai. Em todo tempo o propósito dEle foi construir um corpo para Si, e ajustar cada membro no lugar segundo Lhe aprouvesse.

Paulo diz, “Pois como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos” (Romanos 5:19). Creio que há um princípio por trás da declaração de Paulo que se aplica a nós também. Afinal, se a amargura de um cristão pode “perturbar a muitos” (vide Hebreus 12:15), quão mais irá a dependência de uma pessoa a Deus abençoar e santificar muitos?

Talvez ao ler esta mensagem você possa estar silenciosamente orando, “Senhor, por favor, renove minha paixão por Cristo”. Se for assim, você precisa estar preparado para deixar que o Espírito de Deus sonde o seu coração. Ele quer revelar a você qualquer área de desobediência à palavra. E você precisa estar desejando ser governado e humilhado à obediência. Mais, você tem de abandonar todas as suas próprias ideias a respeito de humildade. Finalmente, você tem de desenvolver paixão para obedecer a Sua palavra. Enquanto os mandamentos dEle não forem o seu deleite, será impossível a você agradá-Lo.

Se você quer seguir Jesus com paixão, a sua vida irá se tornar um laboratório para todo o corpo de Cristo. Deus permitirá que você suporte coisas que não têm nada a ver com a sua própria vida, mas que são lições para a Sua igreja. Agora mesmo, você pode estar imaginando porque está enfrentando certas provações que simplesmente não fazem sentido. Pode ser que o Senhor esteja usando o seu exemplo para ministrar ao corpo maior. Ele está constantemente trabalhando em você, conformando-o à imagem do Seu Filho. E essa obra divina em você tem o objetivo de inflamar os outros à obediência.

Meu caro, eu insisto consigo, faça desta a sua oração: “Senhor, me dê paixão pela Tua palavra. E me faça obediente à Tua vontade. Quero que os demais vejam a Tua obra em mim. Torne a minha vida um imã, para atrair muitos a Ti”.