CRISTO, O SONDADOR DOS CORAÇÕES DOS HOMENS

David Wilkerson (1931-2011)

Recuperando a Verdadeira Intimidade com Ele

Cristo deu sua vida pela igreja e disse que as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Ele é seu fundamento e pedra angular, e as Escrituras nos dizem que a sua glória e sabedoria habitam nela. É claro que o Senhor ama sua igreja e deseja abençoá-la. Então, por que Apocalipse 2 apresenta uma imagem tão temível de Cristo enquanto ele se revela ao seu povo?

“No meio dos sete candelabros, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestido com uma túnica que ia até os pés e cingido à altura do peito com uma faixa de ouro. Sua cabeça e cabelos eram brancos como lã, tão brancos como a neve; seus olhos eram como chama de fogo; seus pés, como bronze reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha; sua voz era como o som de muitas águas; em sua mão direita ele segurava sete estrelas, e de sua boca saía uma espada afiada de dois gumes, e seu rosto era como o sol quando brilha em todo o seu esplendor”. (Apocalipse 1:13-16, NKJV)

Por que Jesus apareceu tão imponente e falou de forma tão penetrante? Como o autor deste livro, João, testemunhou que as palavras de Cristo eram tão afiadas como uma espada, cortando até a medula. Lembre-se de que este era o apóstolo que uma vez reclinou sua cabeça no peito de Jesus, mas agora se via prostrado diante dele. “E quando o vi, caí a seus pés como morto”. (Apocalipse 1:17).

O próprio Senhor explicou sua aparência impressionante. “Todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda mentes e corações. E retribuirei a cada um de vocês de acordo com as suas obras” (Apocalipse 2:23).

A razão pela qual Jesus vem buscar sua igreja é porque ele a ama.

Cristo vem corrigir o seu povo com amor para que sejam purificados. Quando ele entregou a João o livro do Apocalipse, ele disse, em primeiro lugar, para não ter medo. “Mas ele colocou a sua mão direita sobre mim, dizendo: ‘Não temas; Eu sou o primeiro e o último’” (Apocalipse 1:17). Jesus então disse, essencialmente, “Eu quero que todos na minha igreja saibam que eu vim sondar o seu interior. Eu o faço com olhos de fogo e um trovão que abala a alma. Não vou usar palavras suaves; o que tenho a dizer irá perfurar, mas também irá curar. Não permitirei que nenhum dos meus filhos continue na apatia ou cegueira. Meus olhos e minha boca penetrarão cada fachada".

Cristo instruiu João a escrever o que ele viu em sua igreja e enviar cartas aos sete “anjos” das igrejas. Isso se refere aos seus ministros, chamando-os de estrelas em suas mãos (veja Apocalipse 2:16). Ele estava dizendo a João: “Eu amo esses servos. Eu os chamei e os ungi. Agora, você deve entregar minhas palavras a eles”.

Tome, por exemplo, as palavras para o ministro em Éfeso. Enquanto esse pastor lia a carta de João, ele viu Cristo se alegrando com sua igreja. O Senhor elogiou os efésios por serem diligentes, pacientes e perspicazes. Eles odiavam o mal e defendiam a causa de Cristo. Ao longo dos anos, nunca pararam de fazer boas obras. A princípio, esse pastor deve ter se maravilhado com o que leu. Ele pensou: "Uau, o Senhor está satisfeito conosco. Ele nos escreveu uma carta de elogio”.

Conforme ele continuava a ler, no entanto, deparou-se com palavras penetrantes. “Mas tenho contra ti que abandonaste o teu primeiro amor” (Apocalipse 2:4). Jesus advertiu o pastor: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas” (Apocalipse 2:5).

Este pastor de Éfeso deve ter ficado chocado. Ele pensou: “Arrepender-nos, ou o nosso testemunho será removido? Que julgamento chocante! Como pode ser? Somos crentes da aliança, justificados pela fé. Temos sido caridosos, amorosos e atenciosos. Agora, supostamente, devemos voltar a ser como éramos no início? O que isso significa? Como pode ser isso o que Jesus quer dizer? Como eu poderia possivelmente ler esta carta à minha congregação?”.

Tenha em mente que essas palavras foram dirigidas a um exemplo brilhante de uma congregação piedosa.

Isso tinha que ser uma questão profundamente séria aos olhos do Senhor. Ele estava dizendo ao pastor: “Seu amor por mim não é mais como antes. Você negligenciou a comunhão comigo”. Jesus estava deixando claro que o serviço, a adoração e as obras deles tinham tudo a ver com sua presença. Sim, os efésios tinham trabalhado diligentemente realizando boas obras, mas eles não estavam mais íntimos do Senhor.

No próximo capítulo, Cristo resumiu sua mensagem para todos os sete pastores e suas congregações com palavras significativas. “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3:20).

Os cristãos cuja fé se tornou complacente já não abrem as portas de seus corações para Jesus. Quando ele bate à porta, eles nem mesmo estão em casa. Em vez disso, eles deixam um aviso na porta dizendo: “Querido Senhor, estou indo para ministrar no hospital e depois na prisão. Nos vemos na igreja”.

Muitas igrejas fazem muitas coisas caridosas em nome de Cristo. Elas possuem programas para quase todas as necessidades humanas. A congregação vive vidas limpas e retas, cuidando para evitar o pecado. Apesar de tudo isso, algo mudou dentro delas. Em certo momento, esses crentes eram dedicados à comunhão com Jesus. Eles não passavam um único dia sem passar tempo com ele antes de pensar em executar o ministério. Agora as coisas são diferentes. Tudo o que eles dão é uma rápida saudação a caminho de algum trabalho. O quão sério é esse problema para Jesus?

Cristo leva nossa comunhão tão a sério que ele removerá o único elemento que alcança as almas perdidas: sua presença.

Jesus estava advertindo: “Algo foi perdido em minha igreja, e é a minha presença gloriosa. Vocês precisam voltar ao lugar secreto, de volta a se alimentarem comigo. Caso contrário, eu removerei a minha presença de vocês. Todas as suas boas obras – sua pregação, evangelismo e doações – devem fluir a partir do nosso tempo juntos. Elas têm que vir da minha mesa”.

A igreja em Éfeso tinha perdido a presença manifesta de Cristo no meio deles. Eles passaram a não dar o valor devido a Jesus, e isso afetou o seu ministério. Em certo momento, eles se amavam e cuidavam uns dos outros, mas começaram a não dar valor devido uns aos outros também. Isso teve um efeito desastroso em seus trabalhos de boas obras.

Eles estavam tão ocupados servindo as pessoas que suas ações se tornaram o foco em vez do amor de Cristo. A poderosa presença de Cristo estava ausente.

Jesus os advertiu: “Se vocês não fizerem mudanças, se não voltarem a ter fome de mim, eu vou tirar o que vocês têm. Vocês não terão mais autoridade quando realizarem suas boas obras. Tudo será em vão”.

Vejo um paralelo no mundo hoje. Algumas das pessoas mais duras que conheci são aquelas que trabalhavam em departamentos de assistência social e agências sociais. Isso é especialmente verdade para aqueles que trabalhavam em enfermarias psiquiátricas ou com crianças abusadas. Essas pessoas eram trabalhadoras sinceras e dedicadas, mas havia se tornado muito doloroso para elas enfrentar o sofrimento que testemunhavam diariamente. Com o tempo, elas se endureceram.

A mesma coisa pode acontecer com os cristãos. Ministros e servos leigos, todos eles, veem tanta dor e pecado nas pessoas que ministram que podem se tornar insensíveis. Jesus estava abordando essa dureza com o pastor de Éfeso. “Vocês costumavam ser tão gentis com os outros. Vocês tinha tanto amor pelas pessoas e as ouvia. Agora, vocês fecham os ouvidos. Vocês se sentam com eles, mas se endureceram diante de seus clamores. Vocês estão realizando o ministério como se estivesse numa esteira, sem vida. Não tenho escolha senão remover minha presença de vocês”.

Eu digo a você, Deus não ouvirá desculpas de ninguém. Jesus pode ser tudo para qualquer pessoa, se eles continuarem a se relacionar profundamente com Ele. Eles precisam beber da sua presença se desejam que a sua palavra se torne viva para eles.

À luz de Apocalipse 2-3, todo crente deve se perguntar: “Minhas boas obras, meus estudos bíblicos e meu culto me roubaram a comunhão com Jesus? Será que ainda anseio por ele como antes, ou perdi algo?”.

Das sete igrejas em Apocalipse 2, a congregação em Éfeso pecou ao perder a intimidade com Jesus.

Imagine uma congregação que se assenta confortavelmente durante um serviço de adoração de uma hora. Esses cristãos ouvem um sermão breve sobre como lidar com os estresses da vida e, em seguida, correm para fora da porta. Eles não sentem nenhuma necessidade de quebrantamento ou contrição diante de Cristo. Não são compelidos a serem movidos ou convictos por uma mensagem penetrante. Não há clamor de “Senhor, derrete-me, quebra-me. Somente Tu podes saciar minha fome”.

Onde está o zelo que eles tinham antes? Esses crentes costumavam estar ansiosos para examinar a Palavra de Deus e expor seus corações diante da luz do Espírito. Agora, pensam que superaram tudo isso. Então, restringem seu cristianismo apenas para os dias de cultos.

Jesus amava tanto esse pastor e sua congregação que ele os avisou que tomaria medidas drásticas. Amados, Cristo está falando conosco com a mesma urgência hoje. Ele nos diz, assim como disse aos efésios: “Tudo se resume em se cear comigo. É sobre abrir a porta quando eu bato. Estou chamando vocês agora para virem e comungarem. Eu tenho tudo o que vocês precisam. Qualquer tempo de qualidade que passem comigo é o que concede poder através dos meus recursos. Nossa comunhão dá o que vocês precisam para continuar no ministério. Tudo isso deve vir do nosso tempo juntos”.

Assim é como a igreja de Cristo manterá seu testemunho nestes últimos dias. Voltem ao seu primeiro amor e vejam ele se mover em suas vidas novamente. Amém.