Chamados Para Sermos Semelhantes a Cristo

Há pouco tempo, uma querida senhora cristã me dizia: “Estou descobrindo o propósito de minha vida através de um curso que estou fazendo”. Ela terminava um curso de dois meses destinado a ajudar pessoas a descobrir o seu chamado; ela disse que todos no curso estavam ansiosos para descobrir o seu propósito.

Ouvi um pastor no rádio anunciando algo parecido. Ele se oferecia para ajudar os ouvintes a descobrirem quais eram os seus dons espirituais. Caso solicitasse o questionário, o preenchesse e o enviasse, a equipe dele iria avaliar os seus dons pessoais; e aí lhe diriam como encontrar o seu lugar no corpo de Cristo.

Um frustrado casal de ministros me escreve dizendo, “Temos procurado descobrir quais as maneiras de atendermos ao chamado de Deus em nossas vidas. Mas encontramos um sem número de obstáculos. Estamos muito desencorajados, e às vezes temos vontade de desistir!”. Talvez esse casal busque os recursos que os anteriores estão usando.

Estou certo de que tais recursos ajudam de certo modo. A Bíblia diz que Deus dá dons ao Seu povo, e creio que há chamados especiais. No entanto estou convencido pelas escrituras de que há só um propósito crucial para todos os crentes. Os nossos chamados específicos estão reunidos neste único propósito, e todo dom provém dele. Caso percamos de vista este propósito, todos os nossos desejos e buscas serão em vão.

Jesus sintetiza o nosso propósito essencial em João 15:16: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto”. O nosso propósito é basicamente esse: somos chamados e escolhidos para darmos fruto.

Muitos cristãos sinceros acham que dar fruto significa simplesmente trazer almas para Cristo. Mas dar fruto quer dizer algo muito maior ainda do que ganhar almas.

O fruto do qual Jesus está falando é a semelhança de Cristo. Simplificando, trazer fruto quer dizer refletir a semelhança de Jesus. E a expressão “muito fruto” significa “semelhança progressiva de Cristo”.

Se tornar mais e mais à semelhança de Jesus é o nosso propósito essencial na vida. Tem de ser o centro de todas as nossas atividades, o nosso estilo de vida, a causa de nossos relacionamentos. Em verdade, todos os nossos dons e chamados – o nosso trabalho, ministério e testemunho – devem fluir a partir deste propósito básico.

Caso eu não tenha a semelhança de Cristo no coração – caso eu não esteja me tornando notadamente mais como Ele – então perdi completamente o propósito de Deus para a minha vida. Não importa o quê eu consegui para o Seu reino - se eu falhar nesse único propósito, terei vivido, pregado e lutado em vão.

Entenda, o propósito de Deus para mim não pode ser cumprido por aquilo que faço para Cristo. Não pode ser medido por nada que eu consiga, mesmo que eu cure os enfermos ou expulse demônios. Não, o propósito de Deus é cumprido em mim unicamente por aquilo no qual estou me tornando nEle. A semelhança de Cristo não tem a ver com o que eu faço para o Senhor, mas em eu estar sendo transformado em Sua semelhança.

Na mente dos discípulos, o templo de Jerusalém era uma grande e sagrada obra, uma realização tremenda. Eles levaram Jesus em um tour para mostrar a Ele a grandeza das estruturas, as enormes multidões que se reuniam todos os dias, as atividades religiosas que aconteciam. Achavam que Jesus iria ficar tão impressionado com aquilo quanto eles.

Pelo contrário, Jesus jogou um balde de água fria sobre o seu entusiasmo. Disse a eles, basicamente, “Tudo isso vai acabar. Não vai sobrar pedra sobre pedra. Todas estas multidões vão se dissipar, e até os pastores fugirão. Tudo aqui que está lhes impressionando – tudo isso que parece tão religioso – será rejeitado. E isso vai acontecer porque são coisas que não revelam Cristo. São centradas no homem, e revelam o homem”.

O fato é que os discípulos tinham se concentrado no templo errado; tinham os olhos no templo construído pelo homem. O foco deles era a atividade religiosa. E estavam sendo impressionados pelas coisas erradas. O que acontecia lá não representava o Pai. O templo tinha se tornado um covil de ladrões e de cambistas. Os profetas e os sacerdotes estavam entregues a si próprios; até roubavam e abusavam dos próprios pais. O templo de modo algum tinha a ver com os propósitos de Cristo.

Em resumo, Jesus recolocou o foco da atenção dos discípulos no templo espiritual. Como Paulo mais tarde escreveria à igreja, “Não sabeis que sois o templo do Senhor?”.

Creio que muitos cristãos hoje são como os discípulos. Ficamos impressionados com os grandes prédios da igreja, pelas multidões que fluem por lá aos domingos, pela singularidade da adoração, pelos múltiplos programas e ministérios. Mas a mensagem de Jesus para nós é clara: não devemos nos concentrar nos prédios de pedra e ferro, nas formas de adoração ou em como a igreja está sendo conduzida. Essas coisas só vão nos distrair. Pelo contrário, devemos nos concentrar em nosso templo espiritual.

O fato é que o Espírito Santo está no Seu templo o tempo todo. Ele habita nossos corpos. E está preparado a qualquer momento para levar-nos ao Seu propósito. Isso quer dizer que temos de ter a nossa casa espiritual em ordem.

Há vezes em que somos chamados a proferir palavra condenatória. As escrituras conclamam todo cristão a denunciar a falsa doutrina e os falsos profetas. Os ministros especialmente devem denunciar na casa de Deus aquilo que não for à semelhança de Cristo.

Mas Pedro diz que o juízo começa na casa de Deus. E “casa” não quer dizer só a igreja, mas igualmente o nosso templo humano. Devo julgar a mim mesmo – olhar para a situação do meu próprio templo – antes de estar apto a julgar qualquer coisa que eu veja na igreja.

Jesus diz, “Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta... Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados” (João 15:2, 6). Tudo aquilo na igreja que não for reflexo de Cristo – tudo que for corrupção e falsidade, ou não levar as pessoas à Sua semelhança – será mexido. Jesus o lançará fora. E fará com que este ministério e seus corrompidos perpetrantes acabem. Ao final irá expô-lo, esvaziá-lo e fechá-lo.

Estou convencido de que se algum cristão dos dias de hoje pudesse caminhar pelo templo no tempo de Jesus, teria ficado triste pelo que veria. Sacerdotes agarrando dinheiro ao lado, ganância, corrupção, obsessão por riqueza – tudo isso seria chocante. Esse cristão iria se perguntar, “Até quando o Senhor irá tolerar essa loucura em Sua casa?”.

Mas a verdade é que a situação do templo não seria algo pelo qual deveríamos nos preocupar, pois Jesus realmente expulsou a corrupção de lá. Trouxe um chicote, agitou e limpou a casa do Pai. E acabou com todo ministério corrompido que lá operava.

Hoje, servimos o mesmo Cristo purificador do templo. E Ele é fiel em expelir toda a corrupção de Sua igreja, no tempo dEle e à maneira dEle. Se quisesse, poderia derrubar todos os falsos profetas da noite para o dia. Eis porque devemos confiar nEle para os cuidados de Sua igreja. O nosso papel é nos assegurar de que nenhum mundanismo se infiltre em nosso próprio templo humano.

“Sabemos que todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rom. 8:28). A mensagem de Paulo aqui é simples: “Todas as coisas deveriam cooperar para o bem na vida dos que amam a Deus e andam nos Seus caminhos”.

Essa verdade me faz perguntar: por que há tanto desencorajamento e inquietação dentre os cristãos? Por que tantos pastores esgotados, cansados e deixando o ministério aos montes por todo o mundo? Por que essa horrível competição entre ministérios?

Vejo por todo lado igrejas enlameadas no materialismo, e afundadas em dívidas. E o tempo todo, o povo suplicando por respostas na vida. Eu pergunto: como essa poderia ser a vida abundante da qual Paulo diz que devemos desfrutar? Não parece nada ser uma vida boa; honestamente, parece vida de sofrimento e pesar. Dê só uma entrada nas livrarias cristãs e veja os títulos nas prateleiras. A maioria são livros de auto-ajuda sobre como superar a solidão, como sobreviver à depressão. Por que isso?

É porque entendemos tudo errado. Não somos chamados para sermos sucesso, para ficarmos livres de todos os problemas, para sermos especiais, para “conseguirmos”. Não, estamos deixando de lado o único chamado, o único foco que foi designado para ser central em nossas vidas: nos tornarmos frutíferos na semelhança de Cristo.

Quando eu tinha vinte e nove anos de idade, um evangelista mais velho bem conhecido me convidou para almoçar. E me aconselhou, “Se você não conseguir até os cinqüenta anos, nunca mais consegue. Tenho mais cinco anos, e depois disso, a minha chance de ter sucesso acaba. Por isso, vou começar um programa de TV em rede nacional”.

Pensei comigo, “Eu conseguir? Isso não soa como linguagem do chamado de Cristo”. Pouco depois disso, Deus pôs este homem na geladeira. Se perdeu no esquecimento, e seus sonhos se desmancharam. É triste, mas ouço estas histórias em minhas viagens atualmente. Vários ministros me dizem, “Vou construir uma mega-igreja”.

Um senhor que freqüentou a nossa igreja uma vez disse, “Fico muito bravo quando vejo todo mundo se dando bem, enquanto estou aqui com tantos problemas financeiros. Agora chegou a minha vez. Vou fazer tudo que tiver de fazer”. A última vez que ouvi deste homem, a Lei o estava procurando.

A verdade é que muitos de nós somos chamados para sermos cristãos comuns. Mas colocamos muita pressão sobre nós mesmos para acompanhar o espírito competitivo do mundo atual. Encorajamos nossos filhos a serem médicos, advogados, comerciantes proeminentes, e até mesmo ministros “de sucesso”. Mas a verdade é que não temos de produzir nada para descobrir o nosso propósito na vida. Não temos de erigir prédios, escrever livros ou atrair multidões. Paulo diz que somos predestinados a sermos conformes à semelhança de Cristo, e esse é o nosso único propósito: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rom. 8:29).

Jesus era totalmente entregue ao Pai, e isso para Ele era tudo. Ele declara, “Nada faço ou digo a não ser aquilo que o Pai me fala”. Paulo está nos dizendo que todo crente deve seguir o mesmo caminho e direção, possuir o mesmo interesse básico: “Existo para o meu Senhor”.

Então, você quer produzir o “muito fruto” que brota de nossa transformação à semelhança de Cristo? Fiz essa pergunta a mim mesmo enquanto preparava essa mensagem. E o Espírito me cochichou. “David, é preciso que você veja como está tratando as demais pessoas”.

Para simplificar, produzir frutos nos leva à maneira pela qual tratamos os outros. Somente cumprimos o propósito de nossa vida quando começamos a amar os outros do jeito que Cristo nos amou. E nos assemelhamos mais a Cristo à medida que o nosso amor pelos demais aumenta. Jesus disse, “Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor” (João 15:9). Sua ordem é clara e simples: “Vá e ame os demais. Dê aos outros o amor incondicional que lhes tenho mostrado”.

O Espírito impressionou-me com três áreas nas quais o amor incondicional de Cristo deve começar:

A ordem de Jesus tem a ver com a maneira pela qual trato minha esposa e filhos. Para os solteiros, envolve como você trata seus companheiros de quarto, os demais cristãos, as pessoas mais próximas.

Essa verdade estava no âmago da profecia de Malaquias para Israel. Deus diz aos sacerdotes daqueles dias, “Há outra coisa que vocês fazem: Enchem de lágrimas o altar do Senhor; choram e gemem porque ele já não dá atenção às suas ofertas nem as aceita com prazer” (Malaquias 2:13). Deus estava dizendo, “Não aceito mais tuas ofertas ou tua adoração. Não aceitarei mais nada do que vocês me trazem”.

Por que Deus não aceitou mais o ministério daqueles homens? “É porque o Senhor é testemunha entre você e a mulher da sua mocidade, pois você não cumpriu a sua promessa de fidelidade... Portanto tenham cuidado” (2:14-15). A questão toda era relacionada aos seus casamentos.

Não há rodeios. Se for para me tornar o homem e o ministro que Deus me chamou a ser, então a minha esposa tem de ser capaz de dizer honestamente diante dos céus, do inferno e do mundo todo: “O meu esposo me ama com o amor de Cristo. Ele comete erros, mas está se tornando mais paciente e compreensivo comigo. Está se tornando mais amoroso e terno. E ora comigo. Não é falso. Ele é o quê prega”.

Ajudo a pastorear o que poderia ser chamada de uma mega igreja. Dirijo conferências de ministros ao redor do mundo, pregando a milhares de pessoas. Fundei o Desafio Jovem, um ministério cristão de recuperação para viciados no álcool e em drogas, agora presente em 500 países. Escrevi cerca de vinte livros, ajudei a edificar um Seminário, criei um lar para abrigar mulheres e filhos abandonados. Tenho recebido honrarias em grande número.

Mas se esse não é testemunho de minha mulher – se ela carrega uma dor secreta no coração, achando que “O meu marido não é o homem de Deus que ele finge ser” – então tudo na minha vida é em vão. Todo este meu trabalho – as pregações, os resultados, o trabalho de caridade, as muitas viagens – nada disso conta. Sou um ramo seco, inútil – que não produz o fruto da semelhança de Cristo. Jesus fará com que os outros enxerguem a morte em mim, e terei pouco valor em Seu reino.

Você pode evangelizar o quanto quiser, testemunhando e distribuindo folhetos. Poderá ir à igreja semana após semana e cantar louvores a Deus. Mas qual é a opinião do seu cônjuge? Que tipo de vida você tem no lar?

Um pastor de meia idade e sua esposa vieram conversar comigo consternados e chorando. Entre lágrimas, o ministro me disse, “Irmão David, pequei contra Deus e a minha esposa. Cometi adultério”. Ele tremia em piedosa agonia ao confessar seu pecado. Aí sua esposa se virou para mim e disse mansamente, “Eu o perdoei. O seu arrependimento é verdadeiro para mim. Sei que ele não é desse tipo de homem. Estou confiante em que o Senhor vai nos restaurar”.

Fui privilegiado por assistir o início de uma cura maravilhosa. Jamais conseguimos reparar nossos erros passados. Mas quando há verdadeiro arrependimento, Deus promete restaurar tudo que o gafanhoto destruiu.

Mas a traição que Malaquias descreve não é apenas sobre adultério ou fornicação. Inclui tudo que possa ser chamado de uma vida diferente de Cristo, como impiedade, amargura e desonestidade. Estes tipos de traição também anulam as conquistas de toda uma vida. Deus diz a todos que a cometem, “Não aceitarei a tua obra, a tua adoração e nada que traga a Mim. Tenho um problema contigo”.

Desejo profundamente que todo casal que desfruta de um casamento centrado em Cristo possa se levantar e dizer a verdade: “Não é fácil”. O casamento é um esforço de dia após dia, do mesmo jeito que a vida cristã. Tal como o caminho da cruz, ele significa abrir mão dos seus direitos a cada dia. Claro que Satanás sabe que o seu coração está determinado a se tornar mais semelhante a Cristo em seu lar, então ele constantemente irá trazer desafios.

Em resumo, não há outra escola tão difícil e intensa quanto a escola do casamento. E a gente nunca se forma. Deus deixa claro: a nossa vida junto aos nossos queridos é o ápice, o ponto mais elevado de todos os testes. E se nos dermos mal aqui, nos daremos mal em todas as demais partes de nossa vida.

Ser a semelhança de Cristo é fazer Jesus conhecido aos outros. Em minhas viagens, encontro muitos homens e mulheres preciosos que eu sei estão entregues inteiramente ao Senhor. No momento que os encontro, o meu coração salta. Mesmo nunca tendo nos encontrado antes, tenho um testemunho do Espírito Santo de que estão plenos de Cristo.

Ainda vejo alguns destes rostos: pastores, bispos, humildes evangelistas de rua. E no instante que os via eu me convencia, sem que nenhuma palavra fosse dita, “Este homem tem estado com Jesus. Tal mulher tem satisfação em Cristo”. Ao cumprimentá-los, sempre digo a única coisa eu gostaria que dissessem de mim: “Irmão, irmã, vejo Jesus em você”. Não o faço como elogio, é testemunho do Espírito Santo.

Sabemos que a semelhança de Cristo quer dizer amar os demais como Ele nos ama. Mas também quer dizer amar os nossos inimigos – os que nos odeiam, os que desrespeitosamente nos usam, os que não são capazes de nos amar. E devemos fazer isso sem esperar nenhum retorno. Claro, amar desta maneira é impossível, em termos humanos. Não há nenhum livro do tipo “Como aprender a amar”, nenhuma lista de princípios, nenhuma inteligência humana para nos mostrar como amar os nossos inimigos como Cristo nos ama. Mesmo assim recebemos a ordem de fazê-lo. E devemos fazê-lo com propósito crescente. Segundo Jesus, esse é o fruto que devemos produzir.

E então, como fazemos isso? Como amar o muçulmano que cuspiu em meu rosto há um quarteirão de nossa igreja? Como amar as pessoas que dirigem os sites da Internet onde me chamam de falso profeta? Como eu amo os homossexuais que desfilam pela Quinta Avenida em Nova York carregando placas declarando “Jesus era gay”? Como eu verdadeiramente os amo em Cristo? Eu nem mesmo sei como amar os demais cristãos confiando na minha própria habilidade.

Isso simplesmente tem de ser obra do Espírito Santo. Como Jesus orou ao Pai, “A fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja” (João 17:26). Cristo pede que o Pai ponha o Seu amor em nós. E promete que o Espírito Santo nos mostrará como vivermos tal amor.

“Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as cousas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar... Há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (João 16:13-15).

Você está ouvindo o que Jesus está dizendo aqui? O Espírito Santo irá fielmente reunir todas as maneiras pelas quais Cristo amou as pessoas e lhe “há de anunciar”. Na verdade, o Espírito se deleita em mostrar-nos mais de Jesus. É a razão pela qual Ele habita em nossos templos corpóreos: ensinar Cristo a nós. “Vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós... (ele) vos ensinará todas as cousas” (João 14:17, 26).

Nos tempos apostólicos, a igreja estava tão plena da autoridade de Cristo, que levou reis e governos a tremer. Paulo e seus jovens pastores e evangelistas pregavam sem temor. Eles enchiam as cidades e as nações com a mensagem de Jesus. Era uma igreja conhecida por sua semelhança com Cristo, com poder para afetar céus e terra.

Mas hoje, boa parte da igreja se tornou uma instituição fraca e frágil, com pouco da autoridade de Cristo. Está sendo zombada e ridicularizada por todo o mundo. Quando viajo de país em país, posso ver o porque. Freqüentemente encontro a igreja em situação triste, marcada por um estreito denominacionalismo. Cada grupo declara ser de Cristo, e pregar um evangelho bíblico. Mas em alguns casos, tais grupos não conseguem sequer sentar-se juntos à uma mesa.

Felizmente em muitos países, líderes cristãos atravessam as barreiras denominacionais para auxiliar a promover as nossas conferências. Mas uma grande divisão muitas vezes ainda existe entre culturas e raças. Certos grupos são olhados de cima para baixo e não são sequer convidados às reuniões. Também, novos movimentos religiosos estão nascendo por todo lado, com ocorrência de genuíno avivamento. Mas alguns destes têm se tornado exclusivistas, declarando que somente eles têm a verdade.

Finalmente, há um outro tipo de divisão na igreja que é totalmente não semelhante a Cristo. É o abismo entre os grandes e os pequenos, os que estão fazendo coisas grandes em nome do Senhor, versus os que são chamados para obras menores.

Deus tem uma repreensão para este tipo de divisão: “Quem despreza o dia das cousas pequenas?” (Zacarias 4:10). Essa foi a palavra dEle aos israelitas que desprezavam os alicerces do templo construídos por Zorobabel. Eles olhavam de cima para baixo a nova obra porque ela não era tão espetacular quanto o templo de Salomão.

Igualmente hoje, muitas conferências pastorais estão enfatizando crescimento para mega igrejas. Aos ministros de igrejas pequenas é dito, nestas palavras, “Assista o curso do pastor desta mega igreja, e você achará a chave do sucesso. Você acabará tendo uma igreja tão grande quanto a dele”. Mas isso só faz com que os pastores fiquem mais desencorajados. Acabam convencidos de que “Não estou fazendo nada significante para Deus. Ele simplesmente não está me usando”.

Eu honestamente iria adorar assistir uma conferência de ministros onde todos os oradores fossem pastores de igrejas pequenas ou médias. Não tenho nenhuma vontade de ouvir sobre como construir uma grande igreja ou ter um enorme orçamento. Prefiro ouvir vinte ou trinta pastores de pequenas igrejas contando o que Deus está dizendo a eles, sobre a revelação de Cristo que estão recebendo.

Talvez você esteja pensando, “Sou um destes pequenos. As coisas que faço no reino de Deus são tão pequenas. Não estou envolvido em nada importante para o Senhor”. Não é o caso. Conto como eu creio que Deus vê todo esse assunto.

As pessoas mais úteis na igreja de Jesus Cristo são as que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir. Sim, algumas pessoas estão fazendo grandes coisas que são vistas e ouvidas por muitos. Mas alguns destes ministros não têm olhos para ver as necessidades de pessoas que sofrem. São orientados a projetos e não à necessidades.

O fato simples é: o Cristo que vive em mim não é cego nem surdo. E a Sua palavra diz, “Aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? " (I João 3:17). Jesus vê todas as necessidades e dores que estão ao meu redor. Ele ouve os gemidos e o choro dos sofridos e dos limitados. E se eu quero ser mais como Ele, então preciso dos Seus olhos para ver as mesmas coisas.

Este é o amor de Cristo: ouvir o sofrido choro dos órfãos, a criança da favela... o lamento abafado do homossexual enfermado pelo pecado, afogando seu tormento no álcool... o grito agonizante dos famintos, dos pobres, dos encarcerados. Ser como Cristo é ter tais “olhos para ver e ouvidos para ouvir”.

Oh Senhor, me dê um ouvido que ouça. Me ajude a parar de dizer às pessoas o quanto eu sei. Antes, me ajude a ouvir o que Tu estás dizendo aos que não têm voz pública. Me ajude a ser um aprendiz aos pés de pastores e servos desconhecidos no corpo, que são verdadeiros produtores de frutos. Que eu ouça o que Tu estás dizendo a eles. E permita que eu ame as pessoas não em palavras apenas, mas em atos e em verdade.